terça-feira, 16 de julho de 2013

O patrimonalismo brasileiro revisitado

Artigo para a fanpage do LIBER.

Joaquim Barbosa, presidente do STF e ídolo adotado de nossa juventude, mostrou que não é imune aos charmes e benefícios do poder ao voar para o jogo do Brasil contra a Inglaterra no Maracanã no dia 2 de junho com dinheiro público.

O Maracanã também foi o destino do presidente da Câmara dos Deputados, Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN), que, num avião da Força Aérea Brasileira (FAB) levou também sete pessoas à tira-colo, entre familiares e amigos. Já Renan Calheiros, presidente do Senado, preferiu requisitar a FAB para ir a um casamento em Trancoso (BA).

No governo Fernando Henrique Cardoso, o Brasil contou até mesmo com um escândalo estrelando a FAB, conhecido como a "farra dos jatinhos". Na época, seis ministros, um procurador-geral da República e um deputado usaram aviões da aeronáutica para suas férias em Fernando de Noronha.

Exemplos não faltam, e é irônico que, num país em que um discurso anti-privatizações impere soberano na arena política, o estado brasileiro seja o exemplo maior e mais palpável de bem privado. Simplesmente não há distinção entre os bens públicos e o que está disponível para a classe política. Fazem uso disso como se fosse seu direito, numa naturalidade e casualidade constrangedora.

Isso não é nada novo. Sociólogos vêm afirmando a tendência fisiológica do Brasil e dos povos latinoamericanos há décadas. O que não afirmam é que a solução passa por uma redução radical do papel do estado na sociedade.

Afinal, num país onde o estado está em tudo, é difícil divorciar o que é público do que é privado. Precisamos desses limites. A mentalidade aristocrática de que tudo é de direito da elite tem que ser enterrada e substituída por uma mentalidade "burguesa" de separação estrita entre o que é do governo e o que é do cidadão.

E nós defendemos que tudo deve ser do cidadão, para que as farras como a da FAB não voltem a ocorrer. Porque se nem um "símbolo de pureza" como Joaquim Barbosa é capaz de resistir aos encantos das benesses estatais, como resistirão os indivíduos comuns como nós?