segunda-feira, 5 de dezembro de 2011

Sócrates e o sonho cubano

Sócrates morreu.

Assisti à reprise de sua entrevista a Marília Gabriela; o jogador rasga elogios a Cuba e a Fidel, que representa seu sonho de sociedade.

Marília Gabriela pergunta sobre as perseguições políticas no país. O "doutor" diz que perseguições políticas existem em todo lugar.

Se existem em todo lugar, existem com a mesma intensidade? Não há diferença entre as perseguições políticas na Europa ocidental e em Cuba? Parece um tanto absurdo comparar a perseguição sistemática de um regime como o cubano a perseguições de outros países (mesmo que também injustificáveis).

Sócrates ainda acrescenta que essas perseguições se dão simplesmente porque cada país tem suas leis internas que devem ser respeitadas. Então, se um país prevê nuns livros da legislatura que opiniões políticas de fora da linha do partidão devem ser proibidas, então os dissidentes devem apodrecer em prisão. Isso é justificável? Esse tipo de lei é comparável a qualquer outra lei inócua como uma proibição a avançar um sinal de trânsito?

Ele ainda diz que ao menos são leis do próprio país as que geram as perseguições políticas. Há perseguições, como as da Líbia, que se dão por pressões externas. Eu estou me esforçando muito para saber como isso justifica as atrocidades do regime cubano.

Também estou tendo muita dificuldade em ver como Sócrates pode conciliar sua crença numa sociedade que se gere de baixo pra cima com a admiração pela autocracia cubana.

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Pode parecer uma certa falta de tato, no dia da morte da pessoa, criticá-la desse jeito, mas Sócrates não era um ignorante. Era um sujeito admirado justamente porque era politizado.

Quando perguntado sobre as tragédias humanas de Cuba, ele, longe de ignorá-las, resolve justificá-las. Não tenta argumentar contra a existência delas (o que seria absurdo), mas age como se não tivessem importância.

É lamentável que ele não tenha demonstrado nenhuma compaixão para com os cubanos.

Ele está fazendo com que seja difícil para mim ter alguma compaixão pela sua morte.